Mesmo com avanços, muitas empresas ainda não contratam mulheres para cargos de chefia
O mundo corporativo tem voltado os seus olhos para as lideranças femininas. É certo que ainda não alcançamos um número significativo de mulheres em cargos importantes, mas houve um importante avanço nos últimos anos. Isso se deve à preocupação com a diversidade e buscar maior competitividade no mercado.
As grandes empresas sentem necessidade de diversificar o seu quadro de executivos, dando mais oportunidades às mulheres. Essa mudança é essencial para as profissionais e para os negócios. A liderança feminina dá bons resultados e um olhar diferenciado a várias questões empresariais.
Ainda há muito para avançar, porém, já sentimos uma grande diferença no comportamento empresarial se o compararmos com anos anteriores.
Não é só no Brasil que as empresas preferem homens como executivos ou em outros cargos estratégicos. Na verdade, o nosso país segue uma tendência mundial.
De acordo com a pesquisa da Consultoria Kantar, intitulada “Índice de Diversidade de Gênero (IDG)”, nos países europeus apenas 10% das empresas com ações em Bolsa têm mulheres em cargos importantes, como coordenação, direção e CEOs. O estudo foi realizado em 18 países da Europa.
O objetivo da pesquisa é chamar a atenção para o problema e incentivar práticas de inclusão nas grandes corporações. Além disso, o grupo Kantar reconhece que, mesmo com o baixo percentual de lideranças femininas, a pesquisa demonstra que os resultados são melhores do que os de anos anteriores. Mesmo devagar, as empresas demonstram preocupação em resolver o problema, ampliando a presença feminina em cargos estratégicos.
Segundo o grupo Kantar, no período de 2012 a 2020 houve um aumento de 20% no número de mulheres em cargos de liderança no mundo.
No Brasil, o levantamento do Insper e Talenses revela que as mulheres ocupam 19% dos cargos mais importantes das empresas brasileiras. Segundo a pesquisa, as profissionais estão nas diretorias (26%), na vice-presidência (23%) e nos conselhos (16%). Mas quando falamos em presidência das empresas, os homens ainda são maioria. As mulheres CEOs estão em apenas 13% das grandes corporações do país. A pesquisa da Insper e Talenses analisou 532 empresas.
Quando o assunto é empresa de capital aberto, ou seja, aquelas listadas na Bolsa de Valores, a pesquisa do grupo Teva, em parceria com a Easynvest, aponta uma participação feminina ainda maior nos cargos de conselho. O levantamento analisou 15 companhias com capital superior a 300 milhões de reais e constatou que elas possuem em seus conselhos entre 22% e 50% de mulheres. Entre as empresas está o banco BMG, que possui metade do conselho formado por líderes femininas. Em segundo lugar, vem a corporação Magazine Luiza, com 43%. Logo depois, aparecem as seguintes companhias:
Contar com a participação feminina em cargos de liderança vai além da política de gêneros. A decisão conta muito para a empresa e traz excelentes resultados. Isso porque, as mulheres são mais preparadas para assumirem carreiras importantes. Elas estudam mais e são mais exigentes com o desempenho no trabalho.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) confirma a competência feminina a frente dos cargos mais importantes de uma corporação. Em uma pesquisa divulgada pela organização em 2019, empresas com mulheres em postos de liderança alcançaram lucros significativos em seus negócios.
A OIT analisou 13 mil empresas instaladas em 70 países. Segundo 75% dessas companhias pesquisadas, a iniciativa de colocar lideranças femininas em cargos considerados estratégicos contribuíram para o crescimento do rendimento nos negócios.
No Brasil, a OIT entrevistou 451 empresas. Destas, 71% afirmaram que os seus lucros apresentaram um aumento de 5 a 15% com mulheres em cargos importantes, como diretoras e presidentes.
Mas mesmo com resultados tão positivos, as executivas ganham menos que os homens que desempenham a mesma função. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados em 2019, as mulheres que assumem cargos de chefia ganham um terço do salário pago aos homens. Outra pesquisa que confirma essa diferença assustadora é a realizada pela Catho, plataforma de recrutamento.
No final de 2020, o levantamento demonstrou que o problema persiste e está longe de acabar. Segundo a Catho, as profissionais em cargos de liderança têm o salário 23% menor do que os de seus colegas do sexo masculino. A discrepância é ainda maior quando se trata de cargos de especialistas e analistas, chegando a 35% a diferença salarial.
Quando o assunto é maior tempo de estudo, mulheres com pós-graduação, MBA ou outro tipo de especialização, tem uma remuneração bem baixa. Elas ganham 47% menos que os homens, que têm os mesmos requisitos.
Muitas empresas resistem em contratar mulheres para cargos de chefia por entenderem que elas não estão tão disponíveis para o trabalho como os homens. As corporações exigem disponibilidade em tempo integral.
A justificativa é que as mulheres se dedicam não só à empresa, mas ao lar e filhos. O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou uma pesquisa que demonstra que as mulheres dedicam muito mais tempo às tarefas domésticas do que os homens.
Durante a pandemia, as contratações de mulheres para cargos importantes caíram ainda mais. Elas foram as primeiras a serem demitidas e tiveram uma taxa de desemprego bem maior do que as dos homens.
Para mudar essa realidade, as corporações precisam desenvolver políticas de igualdade de gênero. Pesquisas já demonstraram que quanto mais mulheres em cargos de liderança, melhor para empresa. Por isso, é preciso sair da caixinha e investir no potencial feminino.
Comentários