Com a pandemia e o uso mais constante da alimentação por delivery, é natural que o consumo de plástico no Brasil tenha aumentado. Afinal, a maioria das embalagens de delivery utilizam o plástico para manter e transportar o pedido dos clientes.
Nos Estados Unidos, por exemplo, de acordo com a Associação Internacional de Resíduos Sólidos, o aumento do plástico descartável foi de 300% desde que a pandemia começou.
Isso se dá justamente pela preocupação da população com os riscos de se expor ao vírus. Por isso, frascos de produtos de limpeza e embalagens de comida por delivery contribuíram para o aumento do lixo plástico doméstico.
Já no caso do Brasil, que é considerado o quarto maior produtor de lixo plástico, o aumento foi de 28% apenas no mês de maio, segundo a Associação das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. O problema é que, com a quarentena, as cooperativas de reciclagem e coleta estão fechadas.
Entenda mais sobre o aumento do plástico na pandemia e saiba como fazer a sua parte para contribuir com a reciclagem desse tipo de lixo.
O aumento do lixo plástico descartável é real e até mesmo esperado, afinal a pandemia impede que pessoas saiam para comer, por exemplo. O delivery, modelo de entrega de comida em casa, acaba por contribuir com essa situação, uma vez que as embalagens alimentícias costumam utilizar o material.
Além disso, muito desse aumento vem da preocupação com os riscos do vírus, o que proporcionou em mais uso de produtos de limpeza e para a manutenção da saúde, como máscaras, luvas e outros tipos de material hospitalar.
Ou seja, em pleno desenvolvimento de projetos e campanhas para reduzir os impactos do plástico descartável no Brasil, a pandemia chega para atropelar os planos.
Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Espaciais), o aumento do consumo do material foi de 30% no mês de junho. Em maio, os dados obtidos evidenciaram 28% e em abril 25%, que foi quando a associação começou o monitoramento.
A própria companhia afirmou que esse aumento se deu por motivos da crise na saúde pública, citando a demanda de embalagens alimentícias por entregas em domicílio. Outro fato que contribuiu para isso foi a reabertura de bares e restaurantes que optaram pelo uso 100% de descartáveis.
Além do incremento do lixo plástico descartável ter estourado no País, o processo de coleta seletiva e reciclagem segue estagnado por causa da pandemia.
Luciana Lopes, pesquisadora do Instituto de Projetos e Pesquisas Socioambientais, o Ipesa, afirmou que a coleta seletiva já começou a pandemia não operando como costumava. Segundo ela:
“A coleta seletiva do lixo durante os primeiros meses da pandemia, na maior parte dos estados do Brasil, foi interrompida. Esse material estava indo diretamente para aterros sanitários. O que é muito pior, porque além de estar sendo descartado, está indo para o aterro, onde vai ficar por infinitos anos”.
Para pesquisadora, a pandemia vai proporcionar maior sentimento de responsabilidade com o que consumimos e como poderíamos aproveitar o nosso desperdício, destinando tais materiais a uma nova forma, por exemplo.
Apesar de a crise na saúde pública tornar mais urgente o processo de reciclagem, muitas cooperativas de coleta e reciclagem estiveram fechadas. No Distrito Federal, por exemplo, houve diminuição de 45% na coleta de resíduos recicláveis.
E com a preocupação de lidar com lixos contaminados, coletores e separadores se veem com dificuldades de voltar ao trabalho, visto que o vírus é capaz de sobreviver por até 72 horas no plástico.
O rótulo de retomada do Brasil a uma poluição plástica ganhou foco com a pandemia. Isso não se dá apenas no uso de embalagens plásticas para consumo de comida no delivery, mas também com as compras pela internet, que crescem cada vez mais.
Boa parte do que compramos na internet vem protegida e embrulhada em plástico bolha, por exemplo. Grandes camadas desse tipo de plástico nos produtos enviados para residências proporcionam a proteção do objeto, mas a reciclagem desse material se torna quase impossível.
Infelizmente, por estes e outros problemas do acúmulo de resíduos de lixo, os aterros sanitários e incineradores estão sendo impactados. Os aterros, mais conhecidos como lixões a céu aberto, são responsáveis pelos maiores vazamentos de plástico nos oceanos, sendo arrastado pela chuva e vento.
Já no caso do plástico incinerado, há a possibilidade de gerar mais toxinas, sendo que o processo nem sempre elimina o material, criando micropartículas. Isso é um problema, uma vez que estas podem ser liberadas na atmosfera, provocar câncer e causar contaminação em oceanos e lençóis freáticos.
Dan Parsons, diretor do Instituto de Energia e Meio Ambiente da Universidade de Hull, chama atenção para o fato de não culpar fabricantes que produzem equipamentos de proteção desse material em um momento como este. Afinal, é assim que estão mantendo a proteção inclusive para funcionários da saúde.
Mas sua preocupação é justamente perder anos de trabalho na tentativa de levar à população o ideal do consumo consciente quanto ao plástico descartável.
O processo de sustentabilidade com relação ao plástico sem dúvida seguirá enfrentando desafios no pós-pandemia. Afinal, os tipos de plásticos que a demanda atual incitou são dos mais difíceis de reciclar: sacolas, plástico filme, saquinhos e plástico bolha, por exemplo.
Além dessas questões, algumas proibições do uso e disponibilidade de materiais em plástico descartável foram revogadas ou suspensas. E as empresas do setor estão solicitando mais revogações. No entanto, os fabricantes ainda esperam que a pressão contra este tipo de consumo retorne a longo prazo.
Por essas e outras, companhias chamam atenção para o erro no consumo do material: o descarte incorreto e a importância da reciclagem. Assim como afirma Lisa Beauvilain, diretora de sustentabilidade da Impax Asset Management:
“Países com infraestrutura insuficiente para lidar com gestão de lixo e reciclagem estarão pouco equipados perante volumes crescentes de lixo plástico”.
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